quarta-feira, 30 de junho de 2010

Para o capítulo segundo da nossa colecção, escolhemos os trilhos dos livros e da leitura. Explorámos os sentimentos de quem escreve a Oriente e sobre o Oriente. Passámos para cada uma das nossas peças algumas das Heroínas mais marcantes de cada obra lida.
Nunca é demais homenagear as Heroínas sejam elas de papel, de carne e osso, ou simplesmente mulheres!

Zarpem connosco em mais uma viagem... A Oriente!

Goldengift

terça-feira, 29 de junho de 2010

Mineko




(...) Chamo-me Mineko.
Não foi este o nome que o meu pai me deu quando nasci. Trata-se do nome profissional que recebi aos cinco anos de idade e foi-me dado pela chefe da família de mulheres que me criou de acordo com a tradição das gueixas. O apelido dessa família é Iwasaki e aos dez anos fui legalmente adoptada como herdeira do nome e futura proprietária do negócio e dos seus bens.
Mudei-me para a casa das gueixas Iwasaki aos cinco anos e comecei a minha aprendizagem artística aos seis. Adorava a dança que se transformou numa paixão e no objecto da maior das devoções. Estava decidida a ser a melhor e consegui-o.(...)


In Gueixa, uma vida
Mineko Iwasaki
Rande Brown

Tsugumi



(...) Em casa como de costume, descarregava a raiva na família, dava pontapés à bruta na ração do Ponchi, sem sequer pedir desculpa, e dormia profundamente em qualquer lado com a barriga de fora, mas a Tsugumi das alturas em que estava com o Kyõichi brilhava com um ar de tal felicidade que parecia até ter pressa de viver. Isto provocava-nos um sentimento de desconforto, como se o fundo do peito brilhasse de dor, exactamente como um raio de luz trespassando as nuvens.
O estilo de vida da Tsugumi era sempre assim assustador.
As emoções pareciam puxar em todas as direcções pareciam reduzir-lhe a vida ao momento presente, era deslumbrante. (...)

In Adeus, Tsugumi
Banana Yoshimoto

Sachi



(...) E silenciosamente, secretamente, desejava Shinzaemon. De início sentiu vergonha daqueles sentimentos ingovernáveis. Sabia que uma mulher era uma criatura sem importância que devia obediência ao pai até ser dada em casamento, depois ao marido até ele morrer, e a seguir ao filho. Essa era a ordem natural das coisas. Mas o seu marido e senhor - Sua Majestade, o xógum - estava morto e ela não tinha filhos. Numa época normal uma mulher regressaria para junto da sua família, dos pais, mas não viviam uma época normal. Restava a Sachi agarrar a sua vida com as próprias maõs e seguir os seus sentimentos, aonde quer que a consuzissem. Fora isso que que fizera a mãe. Entretanto, não fazia diferença aquilo que ou o que pensava. Tudo não passava de um devaneio desde que permanecesse emparedada na mansão Shimizu.(...)


In A última Concubina
Lesley Downer

A contorcionista Jasmin Etéreo



(...) Na atmosfera de estufa em que estava imersa a pequena sala de tecto baixo do Tu e Eu, uma espécie de cabaré igual aos que tinham começado a ser abertos em Pequim, havia alguns meses, os espectadores banhados em suor não retiravam os olhos do corpo completamente nú, dúctil como uma liana e branco como marfim, da divina Jasmim Etéreo.
Havia um bom quarto de hora que a bela contorcionista executava um número dos mais ousados, que consistia nomeadamente - perante o público libertino, fascinado com a sua elasticidade - em afastar simplesmente as pernas e, depois, fazê-las passar como se nada fosse por detrás do pescoço, antes de erguer o torso apenas com a força dos braços e efectuar um espectacular movimento pendular para trás e para a frente.(...)


In O império das lágrimas
José Frèches

Tie Mae



(...) Sou uma flor. Tenho cinco pétalas a sair. Estou num jardim. Um homem curva-se sobre mim: atrás dele está uma jovem mulher. Ainda que estivesse mais longe, era o cheiro dela que eu conseguia cheirar melhor. Ela é especial.
Não faço ideia quanto tempo estive adormecida. Ao acordar foi isto que vi. Permaneciam comigo fragamentos de sonhos, mas desintegravam-se assim que uma nova pétala se abria. Havia um oceano, grande e violento, uma jovem adormecida, almas com aspecto suspeito, um espelho e muitas flores nas árvores.
Gosto da luz do sol. Odeio a água estaria melhornum sitio quente e cheio de sol. Mas tenho de ficar aqui, estão aqui as minhas raízes.
Sinto dores em todo o corpo, por todo o lado, especialmente nas articulações. Anseio por me poder esticar e crescer
Abanei suavemente os meus ramos e eles respiraram profundamente.(...)


In O Perfume de Mei
Liu Hong